Começou no dia 20 de abril, em instalações da Junta de Freguesia de Gestaçô, o curso de formação que ensina a arte de fazer bengalas de Gestaçô.
A abertura oficial do curso contou com a presença da vereadora da Formação, Qualificação, Emprego e Cultura da Câmara Municipal de Baião, Anabela Cardoso, com o responsável do Centro de Formação Profissional do Artesanato (CEARTE), António Fresco Duarte, com o presidente da Junta de Freguesia de Gestaçô, António Bento, com o formador e artesão, Eduardo Cardoso, e técnicos da autarquia.
Este curso conta com 19 formandos e terá a duração de 200 horas com componentes teóricas e uma vertente prática. Trata-se de uma formação financiada e será ministrada pelo CEARTE.
A Câmara Municipal de Baião designou funcionários seus para participarem nesta formação. Pretende-se ter ainda mais garantias de futuro de que os conhecimentos de produção das bengalas são adquiridos e postos em prática.
Anabela Cardoso, lançou o apelo para que as gerações mais jovens “não deixem morrer” a arte das Bengalas de Gestaçô. “É importante garantir a continuidade e o interesse dos jovens por este ofício, que faz parte da nossa tradição e cultura e que pode transformar-se numa fonte de rendimento para quem aproveitar esta oportunidade”, afirmou a autarca durante a apresentação do curso.
António Fresco Duarte referiu que esta formação tem como objetivo primordial “valorizar e divulgar este tipo de artesanato, pois estas artes ancestrais estão em vias de serem esquecidas pelas gerações mais novas”, referiu.
Já Eduardo Cardoso salientou “espero que no fim do curso alguém saia daqui com interesse para continuar com esta arte, pois este talento pode constituir um elemento de desenvolvimento económico de muita gente.”
Para este artesão “a arte está em risco de extinção, porque só já há quatro artesãos em atividade e todos com idade avançada. Para impedir o desaparecimento desta tradição são muito importantes estas formações para preparar e sensibilizar os mais novos”, referiu.
O presidente da Junta de Gestaçô, António Bento referiu também que “é importante valorizarmos as Bengalas de Gestaçô porque constituem um elemento artesanal de grande importância não apenas para a freguesia mas, também, para o concelho e para a nossa região. Elas fazem parte da nossa história e da nossa tradição e são um grande motivo de orgulho para nós.”
DA TOILETTE À QUEIMA DAS FITAS
As primeiras oficinas de bengalas surgiram em Gestaçô nos finais do séc. XIX. O grande impulsionador do ofício foi então Alexandre Pinto Ribeiro, que em 1902 ali instalou a sua oficina. Pinto Ribeiro revolucionou todo o processo de fabrico das bengalas e cabos de guarda-chuva, ao introduzir uma pequena inovação: a técnica da dobragem. Esta consiste em dobrar as pontas das tiras de madeira amolecida em água a ferver, com ajuda de uma barra metálica, o que permite maior economia em termos de matéria-prima, e a obtenção de uma bengala de maior qualidade.
A partir desse avanço tecnológico, Gestaçô tornou-se uma referência a nível nortenho, tanto na produção da bengala como da mão de guarda-chuva, crescendo o número de encomendas do Porto, São João da Madeira e Braga. Com a técnica veio a criatividade e o surgimento de vários motivos e desenhos originais para embelezar as bengalas: cabeças de animais, cerejeira polida, incrustações de madrepérola, prata ou ouro.
Com o passar das modas a bengala deixou de fazer parte da indumentária masculina e as mãos de guarda-chuva começaram a ser fabricadas em plástico, o que provocou o fecho de muitas oficinas em Gestaçô.
A generalização da Queima das Fitas a nível nacional veio, no entanto, dar um novo fôlego ao ofício: todos os anos cerca de 30 mil universitários dão bengaladas com madeira dobrada e trabalhada naquela freguesia baionense.